O Bonde Fantástico é um RPG independente brasileiro, criado por Jorge dos Santos Valpaços. O jogo transporta os jogadores para um Rio de Janeiro contemporâneo e subúrbio, onde o cotidiano se cruza com o sobrenatural de forma sutil, mas perigosa. Lançado como um projeto "old school" (OSR - Old School Renaissance), O Bonde Fantástico foca na exploração, na resolução de mistérios, na sobrevivência contra ameaças insidiosas e na descoberta de segredos ocultos nas entrelinhas da vida comum.
O Bonde Fantástico não é um jogo de super-heróis, mas de pessoas comuns (ou quase) que se deparam com o inexplicável e precisam enfrentá-lo com poucos recursos e muita coragem.
O Bonde Fantástico utiliza um sistema de regras simplificado e direto, característico dos jogos OSR, com foco na narrativa e na interpretação das ações.
Atributos: Os personagens possuem seis atributos básicos: Força, Destreza, Constituição, Inteligência, Sabedoria e Carisma. Estes atributos são gerados de forma clássica (geralmente 3d6 em ordem) e variam de 3 a 18.
Testes de Atributo: Para resolver uma ação incerta, o Mestre pode pedir um teste de atributo. O jogador rola 1d20 e tenta obter um resultado igual ou menor que o valor do atributo relevante. Quanto menor o atributo, mais difícil é a tarefa, refletindo a vulnerabilidade dos personagens comuns.
Perícias (Skills): Embora não haja uma lista extensa de perícias como em sistemas mais modernos, as ações dos personagens são resolvidas através da descrição e da interpretação dos atributos e da Profissão. O Mestre julga a dificuldade e a relevância de cada atributo.
Pontos de Vida (PV): Os personagens têm uma quantidade limitada de Pontos de Vida, tornando o combate perigoso e desaconselhável. Um ou dois golpes podem ser fatais para um personagem iniciante.
Foco na Narração: O sistema é "rules-light", o que significa que há poucas regras explícitas para cada situação. O Mestre e os jogadores são incentivados a improvisar e a descrever suas ações, com o Mestre aplicando a lógica e a dificuldade com base nos atributos do personagem e na situação.
Moralidade e Consequências: Embora não haja um sistema de Sanidade tão granular quanto em Chamado de Cthulhu, o jogo enfatiza as consequências das ações dos personagens, especialmente quando se trata de enfrentar horrores ou tomar decisões moralmente ambíguas. A corrupção e o trauma são temas presentes.
O cenário de O Bonde Fantástico é o Rio de Janeiro real e contemporâneo, mas com uma camada oculta de eventos e entidades sobrenaturais. O foco está nos subúrbios e nas periferias, locais muitas vezes ignorados pelo brilho das áreas turísticas, onde as lendas e os mistérios ganham vida.
Rio de Janeiro Oculto: O jogo explora a cidade maravilhosa com uma visão mais sombria e misteriosa. Sob a superfície da rotina e da arquitetura conhecida, espreitam criaturas, cultos e segredos ancestrais.
Subúrbios e Periferias: Em vez de focar nos pontos turísticos, O Bonde Fantástico mergulha nas áreas residenciais, nos becos, nas ruas movimentadas e nos terrenos baldios dos subúrbios cariocas. São nesses locais que o cotidiano dos personagens se choca com o inexplicável.
Lendas Urbanas e Folclore Brasileiro: O jogo incorpora elementos do folclore local, lendas urbanas, crenças populares e rituais, dando um sabor único ao sobrenatural. A ameaça pode vir de algo tão conhecido quanto um Lobisomem, mas com uma roupagem muito carioca, ou de algo mais obscuro e local.
Pessoas Comuns: Os personagens são pessoas do dia a dia – estudantes, trabalhadores, vendedores, aposentados, desempregados. Eles não têm superpoderes ou treinamento especial (inicialmente). Sua principal força é a adaptabilidade, a união e a malandragem carioca.
A "Máscara" Social: Assim como em outros jogos de horror, há uma "máscara" informal que impede a maioria das pessoas de perceber a verdade sobrenatural. Os eventos estranhos são racionalizados, ignorados ou atribuídos a outras causas.
Em O Bonde Fantástico, não existem "raças" fantásticas ou "classes" rígidas. Os personagens são definidos por sua Profissão (ou falta dela) e por um Background que os conecta ao cenário.
Humanos Comuns: Todos os personagens são humanos. Sua origem social e seu lugar na sociedade carioca são muito importantes para a interpretação e para o acesso a certos recursos.
Profissões (Ou Desemprego): A profissão (ou a ausência dela) é um dos principais definidores do personagem. Ela sugere suas habilidades iniciais e seus contatos. Exemplos:
Estudante: Jovem, talvez com menos recursos, mas com tempo livre e acesso a informações.
Camelô: Conhece as ruas, tem contatos, esperto e bom de lábia.
Auxiliar de Serviços Gerais: Conhece os bastidores de muitos lugares, discreto, pode ter acesso a ferramentas.
Aposentado: Pode ter mais tempo, menos responsabilidades, e experiência de vida.
Pai/Mãe de Família: Motivado a proteger os seus, mas com muitas responsabilidades.
Background (História Pessoal): A história pessoal do personagem, suas conexões, medos e ambições são muito importantes. O jogo incentiva a criação de personagens com uma vida cotidiana crível, que será impactada pelo sobrenatural.
Traços de Personalidade: As características psicológicas e comportamentais do personagem (corajoso, medroso, cético, impulsivo, leal) são cruciais para a interpretação e para as reações às situações de horror.
Magia e poderes sobrenaturais em O Bonde Fantástico são raros, perigosos e geralmente não estão disponíveis para os personagens jogadores no início da campanha. O foco é na vulnerabilidade humana.
Poderes dos Monstros: Os seres sobrenaturais (monstros, cultistas) possuem poderes aterrorizantes e habilidades que os tornam ameaças formidáveis.
Rituais e Conhecimento Oculto: Pode haver a possibilidade de personagens descobrirem rituais, feitiços ou conhecimentos ocultos. No entanto, o uso de tais poderes é geralmente arriscado, exigindo sacrifícios, ou atraindo a atenção de entidades perigosas, e quase sempre com um custo mental ou físico para o personagem.
Bênçãos/Maldições: Em um cenário que envolve folclore e crenças populares, alguns personagens podem se deparar com "bênçãos" ou "maldições" sutis que afetam seu destino ou sua sorte, mas não são poderes controláveis como magias de RPGs de fantasia.
O Incompreensível: Muitos fenômenos sobrenaturais permanecem inexplicáveis e operam fora das regras humanas de causa e efeito, contribuindo para o horror.
O equipamento em O Bonde Fantástico é mundano e realista, refletindo o dia a dia nos subúrbios do Rio de Janeiro. A engenhosidade e a adaptabilidade são mais importantes do que ter itens mágicos.
Objetos do Cotidiano: Celulares (muitas vezes com bateria acabando), chaves, carteiras, mochilas, isqueiros, garrafas d'água – itens comuns que podem se tornar cruciais em uma crise.
Ferramentas Improvisadas: Um guarda-chuva, um pedaço de pau, uma pedra, uma faca de cozinha – qualquer coisa que possa ser usada como arma improvisada.
Recursos Limitados: Dinheiro é sempre um problema. Personagens não têm acesso a grandes somas ou equipamentos de alta tecnologia, a menos que consigam encontrá-los ou roubá-los.
Armas de Fogo: Raras e perigosas de se obter (ilegalmente, provavelmente). Possuí-las pode atrair a atenção da polícia ou de criminosos, e a munição é escassa. O uso de uma arma de fogo é um ato desesperado com sérias consequências.
Informação: Acesso a informações locais, boatos, fofocas de vizinhos, conhecimento das ruas e das "manhas" da cidade são equipamentos mais valiosos do que qualquer arma.
Mapas e Roteiros de Ônibus/Bonde: Para se deslocar pela cidade, crucial para fugir ou perseguir.
O Bonde Fantástico se destaca por:
Ambientação Brasileira Única: É um dos poucos RPGs a explorar o horror e o sobrenatural especificamente no contexto do Rio de Janeiro contemporâneo e seus subúrbios, incorporando a cultura local, lendas e o dia a dia carioca de forma autêntica.
Horror no Cotidiano: O terror não vem de masmorras escuras, mas do estranho no familiar. A ameaça se esconde nas ruas que você anda, nos prédios que você conhece e nas pessoas que você vê todos os dias.
Personagens Vulneráveis e Relatáveis: Os jogadores interpretam pessoas comuns, sem poderes especiais, o que amplifica a sensação de perigo e o heroísmo de suas ações. A fragilidade é uma força dramática.
Estilo OSR (Old School Renaissance): A simplicidade das regras e o foco na criatividade dos jogadores para resolver problemas, em vez de depender de uma lista de habilidades, remetem aos primórdios do RPG, tornando o jogo mais sobre a imaginação do que sobre as tabelas.
Conexão com a Realidade Local: O jogo permite que os jogadores se conectem diretamente com a cidade onde vivem (sejam do Rio ou não), vendo-se nas situações e nos personagens do jogo.
Foco na Sobrevivência e no Mistério: A ênfase não é no combate, mas na investigação, na fuga, na ocultação e na descoberta de segredos que podem custar a sanidade ou a vida dos personagens.
O Bonde Fantástico é ideal para grupos que buscam um RPG de horror urbano com um forte sabor brasileiro, onde o perigo espreita em cada esquina da vida cotidiana, e a inteligência e a coragem dos personagens comuns são suas únicas armas contra o inexplicável. É um convite a olhar para o familiar com novos olhos, e descobrir que o terror pode estar mais perto do que você imagina.